Caiu um dos
últimos bastiões dos que argumentam que a queima de combustíveis fósseis não
aquece a Terra.
O problema,
diziam os céticos, é que o CO2 liberado por essa queima não parecia ser o
causador de mais calor no planeta em épocas geológicas anteriores. A ordem
parecia ser inversa: primeiro a Terra esquentava e só depois a atmosfera
recebia mais CO2.
"A aparente
contradição tem a ver com a maneira como a neve se deposita", afirma o
paleoclimatólogo Cristiano Chiessi, da USP. Explica-se: os principais registros
sobre o clima do passado vêm de cilindros de gelo obtidos na Antártida. Em
lugares de neves eternas, essa "biblioteca" gelada alcança centenas
de milênios.
A composição do
gelo dá pistas sobre a temperatura na época em que a neve caiu, enquanto bolhas
de ar presas na massa gelada indicam quanto CO2 havia no ar. "O problema é
que essas coisas acontecem em ritmo diferente. Quando a neve cai, ela fica
muito tempo permeável ao ar acima dela. Demora para as bolhas se
formarem", diz Chiessi.
Resultado: os
modelos indicavam que o ar preso nas bolhas sempre é mais "novo" que
o gelo ao lado. Assim, não dava para saber qual tinha sido a ordem dos
acontecimentos, num verdadeiro problema de ovo e galinha.
Um artigo na
revista "Nature" do mês passado, assinado por Jeremy Shakun, da
Universidade Harvard, contornou isso unindo os dados da Antártida a outros
registros pelo mundo. A pesquisa mostra que, no fim da última era glacial, a
ordem foi mesmo mais CO2 primeiro e temperatura aumentada depois.
Detalhe
importante: em cem anos, os níveis de CO2 atmosféricos aumentaram na mesma
proporção que todo o incremento em 10 mil anos no fim da última fase glacial. O
que uma mudança dessas pode causar além de mais calor? Uma pista está num
estudo coordenado por Maria Assunção da Silva Dias, também da USP, que viu um
aumento de um terço na chuva da Grande São Paulo em menos de um século.
Boa parte disso
tem a ver com fatores naturais e com o excesso de prédios da metrópole.
"Mas a mudança lembra um ensaio do que se espera que venha no futuro, com
mais eventos extremos", diz Silva Dias -como tempestades na estação seca,
antes inexistentes, e mais temporais como um todo.
uol
0 comentário(s):