14/05/2011

A BAJULAÇÃO E A SUA IMPLICAÇÃO PARA O ATRASO DAS INSTITUIÇÕES

Postado em 14.5.11  | No marcador  Expressão

(*) José Raimundo Batalha Jardim

Há alguns dias venho refletindo e hoje resolvi escrever algo sobre bajulação e suas implicações para o desenvolvimento das instituições, sejam públicas ou privadas já que nenhuma delas está imune a esse tipo de pessoa, muito embora seja no serviço público que ela se apresenta mais nefasta, a meu ver. Na verdade o bajulador é um tipo de gente que sempre me intrigou e de certo modo me inquietou. Por conta disso é que hoje me pus a escrever algumas coisas a seu respeito.

Antes de enfrentar diretamente o tema proposto no título, que, diga-se, nem de longe pretende ser um ensaio exaustivo, mas apenas a exposição de “breves reflexões”, como sobredito, mister se faz algumas digressões de ordem geral sobre tal prática.

De acordo com Dicionário Aurélio “bajulação” vem do latim bajulatore, significando ato ou efeito de bajular, adulação, bajulice, bajulismo. Outros dicionários pesquisados acrescentam definições similares, tais como adulação, servilismo, lisonja interesseira. Um certo pensador francês de nome Françoias La Rochefoucault  escreveu que a bajulação “é a moeda falsa que só circula por causa da vaidade humana”. 

Para os adeptos dessa nefasta prática os léxicos não reservaram adjetivos lá muito agradáveis, mas certamente todos compatíveis com as suas naturezas servis. Dentre estes podemos destacar, incluindo algumas denominações regionais, os seguintes: puxa-saco, adulador, babão, cafofa, chaleira, xereta, baba-ovo, cheira-cheira, chupa-caldo, corta-jaca, engrossador, enxuga-gelo, escova-botas, lambedor, lambe-botas, lambe-cu, lambe-esporas, sabujo, xeleléu, puxa-tapete, etc, etc, etc. Como se vê, tem adjetivos para todos os gostos e perfis e o “etc” no final por óbvio não é apenas mais um, mas o indicativo de que a “categoria” possui outros nomes. Certamente o mais conhecido de todos, ao menos para a nossa região, é “puxa-saco” cuja origem remonta a uma gíria militar da antiguidade. Consta que nessa época os oficiais comandantes de exércitos não levavam seus pertencentes em malas, mas em sacos grandes que eram carregados obedientemente pelos soldados que andavam ao lado dos comandantes e riam de suas piadas sem graça. Assim, puxar esses sacos virou sinônimo de subserviência e o termo “puxa-saco” passou a definir todos que bajulavam superiores ou qualquer outra pessoa.

Outro aspecto a notar é que o puxa-saquismo acontece em todos os contextos sociais. Seja homem ou mulher, jovem ou idoso, ateu ou religioso, culto ou ignorante, sempre encontramos pessoas que se prestam ao deprimente papel de “adulador servil”.

Apesar da evidente falsidade dessas categorias de pessoas, donde se poderia supor que fossem consideradas personas non gratas para as empresas e instituições públicas, o certo é que alguns chefes gostam deles (senão não existiriam) e lhes conferem prestígio a ponto tal que a tradição lhes conferiu duas datas comemorativas, ainda que informalmente. A primeira é o dia 13 de setembro em que se comemora o “dia do bajulador”. A segunda é o dia 20 de dezembro, considerado o “dia do puxa-saco”. Dizem que esta data foi escolhida pelo fato de se tratar do dia limite para o pagamento da segunda parcela do 13º salário, quanto então, todos os puxa-sacos endinheirados saem na surdina pelas ruas à procura do presente de natal para os seus chefes.
O primeiro filósofo a escrever sobre a bajulação foi o pensador grego Plutarco (47 - 120 d.C.) nascido na cidade Grega de Queronéia na Beócia, onde viveu até o final de sua vida. Em um dos 83 textos da sua obra “Moradia” referido filósofo faz um contundente contraponto entre o bajulador e amigo, restando evidente, por conseguinte, que tais adjetivos não coexistem harmoniosamente na mesma pessoa. Por conta disso é que ele adverte que “o único meio de lutar contra o bajulador é tomar consciência das próprias falhas”.
Para Plutarco a bajulação está intrinsecamente ligada a relações de poder, prestígio e influência. É ali que perigosamente costuma se alojar o bajulador, aquele autêntico mesmo, de “mão cheia” como se diz no popular, que deixa transparecer com alguma parcimônia que suas opiniões são volúveis e interesseiras.
Pelo visto, a bajulação não é invenção dos tempos da globalização. Nas civilizações egípcias da antiguidade já existiam até mesmo “regras de etiqueta” para os bajuladores. Escritos antigos registram que a palavra só deveria ser dirigida a um superior hierárquico se este interpelasse o subordinado e, pasmem, somente se sorria se o superior sorrisse antes.
A Bíblia Sagrada também traz passagens que descrevem muito bem o comportamento do bajulador. O salmista Davi diz que "uns não tem para com os outros senão palavras mentirosas; adulação na boca, duplicidade no coração” (Sal. 1,3 na versão católica). A duplicidade no coração não é outra coisa senão a mais pura falsidade, ou seja, é o dizer uma coisa mesmo sentindo outra. Em outra passagem bíblica o Rei Salomão, que foi considerado um dos homens mais sábio da sua época, revela com sabedoria que a intenção do bajulador é amealhar vantagens com a mentira (Pv. 21,6).

Mas em que isso tudo afeta e implica no atraso das instituições?

Fundamentalmente pelo fato de que no afã de agradar ao chefe, o bajulador sempre concorda com este e não emite um juízo de valor verdadeiro e franco, mesmo quando a ação praticada está eivada de erros que vão resultar em graves prejuízos dos mais diversos matizes para toda instituição. Como o seu comportamento servil, o “puxa-saco” acaba por fazer o chefe sucumbir aos seus erros, à sua arrogância e à sua vaidade até que venha outro para o seu lugar e perpetue o círculo vicioso. Imagine um lugar qualquer em que as coisas não estão andando bem, em que mudanças e transformações são necessárias, mas que ninguém ousa dizer isso ao chefe pelo simples “apego em agradá-lo”. Na verdade essa é uma cilada silenciosa a que são levados os detentores do poder rodeados de puxa-sacos. Isso decorre de uma tendência humana natural de preferir ouvir elogios mentirosos a ouvir verdades que desagradam. Então, aproveitando-se dessa fraqueza e dessa vaidade humana os bajuladores empurram os poderosos para o erro e para o fracasso.

Segundo o filósofo Plutarco, para se aprender a frustrar as ciladas dos bajuladores é preciso saber aceita a linguagem dos amigos. O historiador e jurista romano Tácito, que viveu entre 55 a 120 d.C. certa feita disse com serena eloqüência que “os bajuladores são a pior espécie de inimigo”. Biantes, filosófo que foi considerado um dos sete Sábios da Grécia antiga, ao ser questionado qual seria o pior dos animais respondeu: "Entre os selvagens, o sanguinário; entre os domesticados, o adulador". Por seu turno, o escritor e pastor evangélico John Flavel (1628-1691) escreveu com muita propriedade que “há grande perigo quando um coração orgulhoso encontra-se com lábios bajuladores”. 

Finalizo reproduzindo a conhecida fábula “O Corvo e a Raposa” do francês La Fontaine, que bem descreve os ardis do bajulador e a fragilidade do bajulado. Segundo ele, certa feita o corvo, uma ave muito feia, de canto desafinado e desastroso, tinha preso ao seu bico um pedaço de queijo. A raposa, atraída pelo cheiro do queijo, começou a elogiá-lo, dizendo-lhe que era lindo e que seu canto era por demais belo. O corvo, envaidecido para mostrar seu canto, abriu o bico e deixou o queijo cair. A raposa pegou-o e disse-lhe: "Meu caro senhor, aprenda que todo bajulador vive às custas de quem lhe dá ouvidos”.

Da fábula e de tudo o mais que se escreveu acima se abstrai um dos tantos problemas de que padecem as instituições. É que, no mais das vezes, o bajulado se afeiçoa às bajulações e delas se aproveita, nem que seja para alimentar suas vaidades e inseguranças. Portanto, é bom ficar atento. Dar ouvidos ao bajulador pode até ser bom para o ego, mas é péssimo para o bom andamento das instituições, seja públicas ou privadas. 


(*) José Raimundo Batalha Jardim, é servidor público estadual, ocupante do cargo de Delegado de Polícia Civil atualmente lotado na Delegacia da cidade de Cândido Mendes/MA.

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