08/03/2011

Os filhos que nascem

Postado em 8.3.11  | No marcador  Expressão



Os olhos apenas piscam, não se abrem porque o entardecer não permite fechá-los.

Lágrimas já não ecoam no espaço, não regam a sede das mãos estendidas.

Na canção que embala o obrigado, são ouvidos os beijos das moedas que pingam no bolso.

Nas estradas do acaso, dos cegos e dos que ressonam a noite inteira, só cheiram as pesadas sombras das faces sofridas.

No olhar ofegante, embalado por dúvidas e pena, a mão do esmoleiro não toca a textura da palma cansada.

Dos meninos que gemem, poucos são percebidos, quase nenhum ouve a ciranda ou sente o cheiro de uma boa noite.

Dos filhos que nascem, quase nenhum chega a ser criança, quase nenhum sente a alma da adolescência, são adultos antes do sol se pôr.

Das milhares de cartas, poucas são recebidas e menos ainda passam pelo olhar, ouve-se dois ou três toques e a angustia desce na próxima parada.

Se dos doces nascem o feijão ou o pó, não serei eu o juiz, basta-me estender a mão, fazer mais um som, dá uma de bom moço e alimentar minha indignação.

Indignar-se não faz calor, gritar não garante o almoço, posso plantar uma árvore, que esta seja frutífera para saciar a dor dos filhos, filhos esses que nascem sem o direito de ouvir a ciranda e sentir o cheiro de uma boa noite de sono. 

 
Ailton Barros

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