30/03/2010

Pulsar

Postado em 30.3.10  | No marcador  


As lembranças estão mais amargas.
Não eram assim quando o mar se partiu.
O gosto da saudade prejudica o paladar.
Talvez porque ainda temos lágrimas para regar essa história.

A pele parece que fica áspera, sente frio e calor ao mesmo tempo.
São as incertezas da tua chegada.

Os olhos se perdem ao fitar a linha tênue.
É a espera de um veleiro.

Os pés ficam fragilizados e sem força
molhados por uma imensidão de sal,
de tanto ficar em pé com a mão esquerda sobre os olhos.

Os ouvidos degustam uma melodia canora entoada bem baixinho.
A canção que embala essa saudade.
As notas que ferem como uma lâmina afiada.

As mãos trêmulas com as palmas para cima
como se esperasse algo para completá-las.
Não sabemos quanto tempo elas agüentarão.

A boca já coberta pela ferrugem e perdendo letras
por falta de falar o que sente essa alma,
sem aquela face atenta e os ouvidos para prestigiá-la.

Um nariz começa a esquecer sua tarefa,
talvez por há tempos não sentir um cheiro,
sufocando lembranças trazidas pelo ar.

Dois braços ficarão atrofiados em poucas luas,
sentindo necessidade de um aconchego,
sem ter aquele que os farão completos.

Um coração parou de lacrimejar e passou a exercer a função que deveria ser a única.
Agora são ouvidas apenas leves pulsadas por minutos.
Só é possível sentir os canais marítimos sendo navegados.

Talvez por não merecer.
Talvez por não merecer amar.

Apenas pulsar,
essa é a única função desse meu,
desse que um dia foi seu,
desse coração

Ailton Barros

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2 comentários:

  1. Muito boa a poesia Ailton.

    Não conhecia esse poeta que existe em você

    Mauricio

    ResponderExcluir
  2. parabéns amigo
    o blog tá d+

    MaNiLsOn

    ResponderExcluir

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